No
Brasil Colônia e depois, já com o país independente mas ainda escravocrata, proliferaram
irmandades. "Para cada categoria ocupacional, raça, nação - sim, porque os escravos africanos e seus descendentes procediam de diferentes locais com diferentes culturas - havia uma. Dos ricos, dos pobres, dos músicos, dos pretos, dos brancos, etc. Quase nenhuma de mulheres, e elas, nas irmandades dos homens, entraram sempre como dependentes para assegurarem benefícios corporativos advindos com a morte do esposo. Para que uma irmandade funcionasse, diz o historiador
João José Reis, precisava encontrar uma igreja que a acolhesse e ter aprovados os seus estatutos por uma autoridade eclesiástica".
Muitas conseguiram construir a sua própria Igreja como a Igreja do Rosário da Barroquinha, com a qual a
Irmandade da Boa Morte manteve estreito contato. O que ficou conhecido como devoção do povo de
candomblé. O historiador cachoeirano Luiz Cláudio Dias Nascimento afirma que os atos litúrgicos originais da Irmandade de cor da Boa Morte eram realizados na
Igreja da Ordem Terceira do Carmo, templo tradicionalmente freqüentado pelas elites locais. Posteriormente as irmãs transferiram-se para a
Igreja de Santa Bárbara, da
Santa Casa da Misericórdia, onde existem imagens de
Nossa Senhora da Glória e da
Nossa Senhora da Boa Morte. Desta, mudaram-se para a bela Igreja do Amparo desgraçadamente demolida em 1946 e onde hoje encontram-se moradias de classe média de gosto duvidoso. Daí saíram para a Igreja Matriz, sede da freguesia, indo depois para a Igreja da Ajuda.
O fato é que não se sabe ao certo precisar a data exata da origem da
Irmandade da Boa Morte.
Odorico Tavares arrisca uma opinião: a devoção teria começado mesmo em
1820, na
Igreja da Barroquinha, tendo sido os
Jejes, deslocando-se até
Cachoeira, os responsáveis pela sua organização. Outros ressaltam a mesma época, divergindo quanto à nação das pioneiras, que seriam alforriadas
Ketu. Parece que o “corpus” da irmandade continha variada procedência étnica já que fala-se em mais de uma centena de adeptas nos seus primeiros anos de vida.
Essas confrarias eram os locais onde se reuniam as sacerdotisas africanas já libertas (alforriadas) de várias nações, que foram se separando conforme foram abrindo os terreiros. Na comunidade existente atrás da capela da confraria foi construído o
Candomblé da Barroquinha pelas sacerdotisas de
Ketu que depois se transferiram para o Engenho Velho, ao passo que algumas sacerdotisas de
Jejedeslocaram-se para o
Recôncavo Baiano para
Cachoeira e
São Félix para onde transferiram a
Irmandade da Boa Morte e fundaram vários terreiros de
candomblé jeje sendo o primeiro
Kwé Cejá Hundé ou
Roça do Ventura.
Orixás
Olorun também chamado
Olodumare é o Deus supremo, que criou as divindades ou
Orixás (
Òrìsà em yoruba). As centenas de orixás ainda cultuados na
África, ficou reduzida a um pequeno número que são invocados em cerimônias:
- Exu, Orixá guardião dos templos, encruzilhadas, passagens, casas, cidades e das pessoas, mensageiro divino dos oráculos.
- Ogum, Orixá do ferro, guerra, fogo, e tecnologia.
- Oxóssi, Orixá da caça e da fartura.
- Logunedé, Orixá jovem da caça e da pesca
- Xangô, Orixá do fogo e trovão, protetor da justiça.
- Ayrà, Usa branco, tem profundas ligações com Oxalá e com Xangô.
- Obaluaiyê, Orixá das doenças epidérmicas e pragas, Orixá da Cura.
- Oxumaré, Orixá da chuva e do arco-íris, o Dono das Cobras.
- Ossaim, Orixá das Folhas, conhece o segredo de todas elas.
- Oyá ou Iansã, Orixá feminino dos ventos, relâmpagos, tempestades, e do Rio Niger
- Oxum, Orixá feminino dos rios, do ouro, jogo de búzios, e amor.
- Iemanjá, Orixá feminino dos lagos, mares e fertilidade, mãe de muitos Orixás.
- Nanã, Orixá feminino dos pântanos e da morte, mãe de Obaluaiê.
- Yewá, Orixá feminino do Rio Yewa.
- Obá, Orixá feminino do Rio Oba, uma das esposas de Xangô
- Axabó, Orixá feminino da família de Xangô
- Ibeji, Orixá dos gêmeos
- Irôco, Orixá da árvore sagrada, (gameleira branca no Brasil).
- Egungun, Ancestral cultuado após a morte em Casas separadas dos Orixás.
- Iyami-Ajé, é a sacralização da figura materna, a grande mãe feiticeira.
- Onilé, Orixá do culto de Egungun
- Oxalá, Orixá do Branco, da Paz, da Fé.
- OrixaNlá ou Obatalá, o mais respeitado, o pai de quase todos orixás, criador do mundo e dos corpos humanos.
- Ifá ou Orunmila-Ifa, Ifá é o porta-voz de Orunmila, Orixá da Adivinhação e do destino.
- Odudua, Orixá também tido como criador do mundo, pai de Oranian e dos yoruba.
- Oranian, Orixá filho mais novo de Odudua
- Baiani, Orixá também chamado Dadá Ajaká
- Olokun, Orixá divindade do mar
- Olossá, Orixá dos lagos e lagoas
- Oxalufon, Qualidade de Oxalá velho e sábio
- Oxaguian, Qualidade de Oxalá jovem e guerreiro
- Orixá Oko, Orixá da agricultura
Na
África cada Orixá estava ligado originalmente a uma cidade ou a um país inteiro. Tratava-se de uma série de cultos regionais ou nacionais. Sàngó em
Oyó, Yemoja na região de
Egbá, Iyewa em
Egbado, Ogún em
Ekiti e
Ondo, Òsun em
Ilesa,
Osogbo e
Ijebu Ode, Erinlé em
Ilobu, Lógunnède em
Ilesa, Otin em
Inisa, Osàálà-Obàtálá em
Ifé, subdivididos em Osàlúfon em
Ifon e Òságiyan em
EjigboNo
Brasil, em cada templo religioso são cultuados todos os Orixás, diferenciando que nas casas grandes tem um quarto separado para cada Orixá, nas casas menores são cultuados em um único
quarto de santo (termo usado para designar o quarto onde são cultuados os Orixás).
O
Ritual de uma casa de Ketu, é diferente das casas de outras nações, a diferença está no idioma, no
toque dos Ilus (
atabaque no Ketu), nas cantigas, nas cores usadas pelos Orixás, os rituais mais importantes são:
Padê,
Sacrifício,
Oferenda,
Sassayin,
Iniciação,
Axexê,
Olubajé,
Águas de Oxalá,
Ipeté de Oxum,...
A
língua sagrada utilizada em rituais do Ketu é derivada da
língua Yoruba ou
Nagô. O povo de Ketu procura manter-se fiel aos ensinamentos das africanas que fundaram as primeiras casas, reproduzem os rituais, rezas, lendas, cantigas, comidas, festas, e esses ensinamentos são passados
oralmente até hoje.
As posições principais do Ketu (são chamados de cargo ou posto, em yoruba Olóyès , Ogãns e Àjòiès), em termos de autoridade, são:
O cargo de autoridade máxima dentro de uma casa de candomblé é o de Iyálorixá (mãe-de-santo) ou Babalorixá (pai-de-santo). São pessoas escolhidas pelos Orixás para ocupar esse posto. São sacerdotes, que após muitos anos de estudo adquiriram o conhecimento para tal função. Quando a pessoa escolhida através do
jogo de búzios ainda não está preparada para assumir o posto, terá que ser assistida por todos
Egbomis (meu irmão mais velho) da casa para obter o conhecimento necessário.
- Iyalorixá ou Babalorixá: A palavra iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai.
- Iyakekerê (mulher): mãe pequena, segunda sacerdotisa.
- Babakekerê (homem): pai pequeno, segundo sacerdote.
- Iyalaxé (mulher): cuida dos objetos ritual.
- Ojubonã ou Agibonã: mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação
- Egbomis: são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: "meu irmão mais velho").
- Iyabassê: mulher responsável pela preparação das comidas-de-santo
- Iaô: filho-de-santo que já entra em transe.
- Abiã ou abian: novato.
- Axogun: responsável pelo sacrifício dos animais (não entra em transe).
- Alagbê: responsável pelos atabaques e pelos toques (não entra em transe).
- Ogãs ou Ogans: tocadores de atabaques (não entram em transe).
- Ajoiê ou ekedi: camareira do Orixá (não entra em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Gantois, de "Iyárobá" e na Angola, é chamada de "makota de angúzo". "Ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil.